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Desabafos,desatinos e aventuras de uma emigrante em África.
Ontem fui tomar o pequeno almoço a uma pastelaria que não tem muito de apelativo mas, por falta de opção, foi o spot escolhido. Pedi um croissant simples, que é o meu bolo de eleição desde sempre. Aqui não são fantásticos, mas comem-se, e ao menos sei que não tem creme, evitando possíveis problemas intestinais. Tive sorte, pois eram frescos, e apesar de maçudos não estavam secos.
E é aqui que se dá o momento. Aquele, em que dou a terceira trinca e identifico um insecto minúsculo na massa do meu croissant. E o que é que eu faço, perguntam vocês? Bem. Removi o insecto, pousei no prato, e continuei a comer o meu croissant.
Como se nada fosse.
E então pensei para comigo..."que longo caminho percorreste tu M&Ms...já encontras bichos na comida e em vez de reclamares, simplesmente relativizas e continuas a comer". Porque afinal, a porra das bichezas aqui estão em todo o lado.
E não foi a primeira vez que aconteceu. Já o fiz com um pão. E com massa. Mas ainda não tinha "filosofado" acerca disto.
Não sei se me rio ou se choro.
Até já!*
Hoje acordei às 5h para ir trabalhar...às 6h saí de casa. Nem me lembrei que já havia um veredicto das eleições dos EUA. Fui trabalhar e deviam ser umas 14h30 quando um colega me diz que viu no Facebook que o Trump ganhara as eleições. Os meus olhos quase saíram das órbitas, mas visto que a fonte fora o Facebook, eu achei que devia ser a gozar. Só podia. E só quando falei com alguém ao telefone e perguntei "Quem é que ganhou as eleições nos EUA?" e ouvi a resposta, é que percebi que não era uma anedota. Era e é mesmo a triste realidade. Fiquei em choque. Passamos do primeiro presidente negro a ser eleito nos EUA, para um presidente racista, sexista, xenófobo e machista. Pensava que estávamos a evoluir...e não a andar para trás... pensava que não voltaríamos a cometer os erros do passado. Como me enganei...
Até já!*
Hoje, a saúde ocupacional obrigou-me a fazer uma série de exames médicos, entre eles a colheita de análises sanguíneas e um raio X aos pulmões e à coluna. Para começar, na ficha de inscrição, conseguiram escrever errado os meus 4 nomes. É verdade...e não são difíceis, acreditem!
Depois fui tirar as análises. Arregaço a manga da camisa, veia cheia, sem dor. Impecável. Limpa o braço, põe penso e saio do gabinete. Ao direccionar-me para a sala seguinte, vou a desenrolar a camisa quando reparo que, já estou cheia de sangue no braço. No braço, na camisa, e até no chão já tinha pingado. Eu nem tinha dado conta! Voltei para trás para substituir o penso rápido que já estava ensopado e desta vez certifiquei-me de que a hemorragia estava estancada. Nunca me tinha acontecido semelhante! Nem sei como foi possível sair tanto sangue em meia dúzia de segundos, por um furinho tããão pequenino feito no braço!
Desta feita, sou chamada para a sala de raio X. O técnico disse que tinha que me despir e colocar uma bata que lá estava pendurada. Até aí, tudo bem. Mas a bata, além de enorme não era de botões. Era tipo daquelas que vemos nos filmes, que apertam atrás com uns fios, que os doentes no hospital usam e ficam com o rabiosque à mostra. Eu bem que tentei arranjar solução para aquilo, até cheguei a perguntar para que lado eram os fios, mas como ele me disse que podia usar como quisesse, eu lá dei uns nós estranhos e decidi usar os fios na parte da frente. Achei que estava um bocado parola mas que ficaria tudo mais controlado a nível de não se ver mais do que o necessário. Mas ainda assim saí do balneário com as minhas dúvidas... Felizmente, essas dúvidas dissiparam-se quando depois de virar de costas, e virar de frente, me mandaram virar para a esquerda e levantar os braços! Pensei logo "decisão acertada!"! Isto porque, virei-me para a esquerda e o técnico ficava na sala atrás de mim. Imaginam-me de braços levantados atrás da cabeça e com a bata a apertar atrás? Ahahah, safei-me de boa! Ás vezes compensa ir contra as regras!
Fiz também uma espirometria. Que a meu ver, é o pior dos piores. Já o fiz umas 4 vezes e acho sempre terrível. Para quem não sabe, a espirometria é um exame aos pulmões que nos obriga a expirar por um tubo, que entra numa máquina e faz uma leitura. Só que, temos de expirar com força até ficarmos sem nenhum ar nos pulmões. Parece simples não é? Pois...mas não é mesmo! Supostamente a expiração tem que durar 6 segundos, o que é super difícil de conseguir pois tem que ser com força. O técnico que fazia o exame era muito engraçado, e enquanto expiramos gritava "vai vai vai vai vai...". Só dava vontade de rir, o que não ajudava para concentrar no exame. Eu já só dizia que me estava para sair um pulmão fora...Como temos de fazer umas 6 repetições, saímos de lá como se tivessemos ido correr 10km.
Mais 3 exames feitos, uma consulta no médico e estava despachada. Acho que desde que saí de Portugal, já fui mais vezes ao médico do que durante toda a minha vida. Ora vejamos, todos os anos faço exames de saúde ocupacional e uma vez por ano, quando vou a Portugal, faço análises e exames também. Não tenho cá desculpas para ficar doente não é?
Até já!*
Mas sou só eu que nunca consegue alcançar a patanisca perfeita? A patanisca mais fofinha, amarelinha e saborosa de sempre?
Desta vez não faltou a salsa (que consegui encontrar felizmente!), só mesmo o jeito. Ou ficam espalmadas, ou ficam com óleo, ou ficam com pouca massa... já não sei que faça. Já tentei dar a volta à receita uma série de vezes. Já pesquisei em sites e até vi videos...mas também não ajudam nada porque simplesmente não são coerentes. Há a receita que diz que a farinha não pode ter fermento. Outra diz que se acrescenta fermento. Outra põe água. Outra não põe. As quantidades são sempre esquisitas. Gente...decidam-se! Anda aqui uma pessoa a tentar alcançar a bela das mais belas, e não consegue! Já basta cá os ovos serem pequenos e ser raro encontrar salsa. Quando tenho os ingredientes todos, quero mais é que fiquem perfeitas! Rrrr.
(Mas na falta de melhor... comeram-se pois.)
Até já!*
...os táxistas estão a conseguir denegrir ainda mais a sua imagem perante os portugueses?
(um aparte de africanismos)
Até já!*
Costumo dizer que cá, a vida tem um valor diferente. Em quatro anos aqui, já vi morrer mais gente do que em 26 anos em Portugal. É frequente o pedido de dispensa por parte dos trabalhadores para irem a funerais de familiares ou amigos. Quase parece uma coisa normal...quase. Para mim é tão anormal, que não sei explicar.
Hoje senti a necessidade de escrever...mas quero escrever e não consigo ter as palavras certas para o que sinto em relação a isto. Uma espécie de agonia. Parece que me “cai a ficha” em relação ao sítio em que estou. Assusta-me ter de me deparar com esta realidade...em que a morte é algo comum, independentemente da idade ou do estado de saúde. Lembra-me a estupidez que é morrer aqui, por causa de um acidente de viação, num hospital sem cuidados médicos apropriados ou simplesmente por uma briga parva com um familiar. É tão simples quanto isto.
E de um momento para o outro, aquela pessoa que durante meses está diariamente a trabalhar ao nosso lado, deixa de estar. E o tempo passa... o trabalho continua... e eu esqueço. Até voltar a estar perto da morte. Aí relembro. Todos.
Até já!*
Futebol. É um desporto que eu gosto. Gosto particularmente de ver os jogos do meu clube e da selecção portuguesa, mas também vejo jogos de outros clubes. Não sou uma aficcionada nem nada que se pareça, já vivi bem mais o futebol há uma década atrás do que agora.
Mas o que não consigo entender é o tanto que há para falar sobre futebol. Porque é que as pessoas (e neste caso refiro-me aos meus colegas de trabalho do sexo masculino, ou seja, a TODOS os meus colegas de trabalho) não se limitam a ver os jogos, a comentá-los durante dez minutos e seguirem com a sua vida?
Aqui existe um fenómeno. Um fenómeno que irrita cada milímetro do meu ser. E que não acontece só depois dos jogos...acontece antes também! E não são 15 minutos antes...são dois dias antes!!! Portanto, se contablilizarmos a existência do campeonato, das competições europeias, mais taça da liga e a taça de portugal, chega-se à bela conclusão que não há a porra de um dia que não se fale de futebol! E começa bem cedo...no café antes do trabalho, na viagem para o trabalho, na pausa para o lanche da manhã e durante o almoço (que inclui a fila para o almoço e durante a refeição). Entendam, que não se fala uma vez por dia numa destas situações que mencionei...fala-se em todas as situações. Falam e falam e repetem-se, quais treinadores de bancada, sabichões do futebol. Conseguem antever resultados e discutem-nos afincadamente, qual é o melhor esquema de jogo ou os jogadores que devem jogar... esmiuçam o resultado do jogo até à ultima gota, e posses de bola e número de remates e porque era falta e devia ter sido expulso... não há quem aguente! Até na televisão temos este fenómeno, horas de emissão com comentadores antes dos jogos e depois dos jogos. Mas há assim tanto que dizer?
Ontem houve jogo da liga dos campeões. Estão a ver como vai (está a) ser o meu dia não estão? Vou só ali cortar os pulsos e já volto...
Até já*
Aqui somos todos homens. É uma frase que ouço várias vezes. Sou a única mulher na minha equipa de trabalho, e as conversas são sempre masculinas obviamente. Às vezes masculinas demais, mas como “aqui somos todos homens” não há filtros, não interessa se eu lá estou ou não. É como se eu fosse um homem, ou é assim que me tratam. Não é uma ofensa, é uma forma de me mostrarem igualdade.
Trabalho numa área dominada por homens, onde infelizmente ainda são poucas as oportunidades dadas ao sexo feminino. Lembro-me de que quando fui à entrevista para este emprego, o meu pensamento foi apresentar-me o menos feminina possível. Tirei o verniz das unhas, amarrei o cabelo num rabo-de-cavalo, usei umas calças de ganga straight e uma camisola básica lisa. Hoje olho para trás e penso “que idiotice”. Nós temos que ser aceites como somos. E não é pelo aspecto ou pela apresentação que tenho que me destacar, mas sim pelo meu trabalho. Agora vejo isso claramente, mas naquela altura só queria arranjar um emprego, numa área em que é muito difícil de entrar. Se foi o meu look descontraído que me garantiu o trabalho? Não, não foi. E certamente não é o que continua a manter-me no mesmo. Batalho todos os dias para sobreviver neste man’s world, onde apesar de tudo me orgulho de trabalhar. A companhia feminina é pouca ou escassa,e já me habituei a estar rodeada de homens, seja no trabalho ou no restaurante ou basicamente, em todo o lado. É giro, reina a boa disposição, mas há coisas que só nós mulheres sabemos, e só com outras mulheres nos dá gosto partilhar.
E como o nosso dia é só uma vez por ano, hoje acordei e decidi fazer gazeta ao uniforme de trabalho. Pus uma roupa bonita, maquilhei-me, e saí toda vaidosa. E é aproveitar que hoje tenho desculpa!
Até já*