Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Desabafos,desatinos e aventuras de uma emigrante em África.
" People become really quite remarkable when they start thinking that they can do things. When they believe in themselves they have the first secret of success." - Norman Vincent Peale
Aqui somos todos homens. É uma frase que ouço várias vezes. Sou a única mulher na minha equipa de trabalho, e as conversas são sempre masculinas obviamente. Às vezes masculinas demais, mas como “aqui somos todos homens” não há filtros, não interessa se eu lá estou ou não. É como se eu fosse um homem, ou é assim que me tratam. Não é uma ofensa, é uma forma de me mostrarem igualdade.
Trabalho numa área dominada por homens, onde infelizmente ainda são poucas as oportunidades dadas ao sexo feminino. Lembro-me de que quando fui à entrevista para este emprego, o meu pensamento foi apresentar-me o menos feminina possível. Tirei o verniz das unhas, amarrei o cabelo num rabo-de-cavalo, usei umas calças de ganga straight e uma camisola básica lisa. Hoje olho para trás e penso “que idiotice”. Nós temos que ser aceites como somos. E não é pelo aspecto ou pela apresentação que tenho que me destacar, mas sim pelo meu trabalho. Agora vejo isso claramente, mas naquela altura só queria arranjar um emprego, numa área em que é muito difícil de entrar. Se foi o meu look descontraído que me garantiu o trabalho? Não, não foi. E certamente não é o que continua a manter-me no mesmo. Batalho todos os dias para sobreviver neste man’s world, onde apesar de tudo me orgulho de trabalhar. A companhia feminina é pouca ou escassa,e já me habituei a estar rodeada de homens, seja no trabalho ou no restaurante ou basicamente, em todo o lado. É giro, reina a boa disposição, mas há coisas que só nós mulheres sabemos, e só com outras mulheres nos dá gosto partilhar.
E como o nosso dia é só uma vez por ano, hoje acordei e decidi fazer gazeta ao uniforme de trabalho. Pus uma roupa bonita, maquilhei-me, e saí toda vaidosa. E é aproveitar que hoje tenho desculpa!
Até já*
Como escrevi no 1º post, eu vivo e trabalho em Moatize, Tete. O centro da vila de Moatize é pequeno e engraçado. Tem uma avenida central pavimentada, com pequenas árvores num canteiro contínuo que atravessa a vila. Possui uma estação de caminhos de ferro, utilizada para escoar o carvão proveniente das minas aqui existentes. Moatize é famosa pelas suas grandes reservas de carvão (Bacia Carbonífera de Moatize), facto que atraiu o investimento estrangeiro para esta zona, principalmente na última década. Ainda se podem ver bastantes casas construídas no tempo colonial, em diversas cores e com pormenores arquitectónicos engraçados, assim como bairros construídos para os mineiros e que infelizmente se encontram bastante degradados. Apesar da população ser muita e bastante dispersa, o centro da vila tem uma pastelaria, 3 bancos, uma loja de comunicações, uma papelaria, 2 ou 3 lojas de utilidades,um café e um snack bar. Existem ainda os vendedores de rua, que vendem tudo o que vocês conseguirem imaginar e as “bancas”, que são pequenas estruturas montadas que comercializam bebidas, comidas, utilidades, etc.. Moatize tem ainda um centro hospitalar, o Instituto Médio de Geologia e Minas e um monumento de homenagem a Santa Bárbara, padroeira dos mineiros. Não é coincidência que o feriado da vila de Moatize se celebre a dia 4 de Dezembro, dia de Santa Bárbara.
Até já*
.
" Avoiding danger is no safer in the long run that outright exposure. Life is either a daring adventure, or nothing. " - Helen Keller
É obvio que quando um pessoa sabe que vai emigrar, tenta obter o máximo de informação possível acerca do lugar para onde vai. Eu como não sou diferente das grandes massas, tentei pesquisar sobre Moatize e sobre Tete. Infelizmente, há 3 anos e meio não se conseguia encontrar grande coisa sobre este sítio. Agora lá se vão encontrando mais uns vídeos aqui sobre a malta. Mas não fugindo ao assunto, uma daquelas coisas que não nos passa pela cabeça é que a condução é feita pelo lado esquerdo da estrada. Ora, qual não foi o meu espanto, quando ao sair do aeroporto estava tudo ao contrário...desde as faixas de rodagem, à localização do volante e consequentemente da manete das mudanças, e até os piscas se ligam do lado contrário. Felizmente a ordem dos pedais ficou no sítio...yay!!!! Portanto... depois de 8 anos a conduzir em Portugal, chego a MZ e tenho que conduzir ao contrário. E se imaginam que é estranho conduzir numa estrada normal, imaginem quando tive que fazer a minha primeira rotunda ao contrário. Weeeiiird. E cruzamentos em que o nosso cérebro não sabe qual é a faixa em que tem que entrar? Afinal está programado para o contrário do que lhe estou pedir. Dificuldades iniciais ultrapassadas e cérebro formatado, adquiri a capacidade de me adaptar facilmente aos dois tipos de condução. Mas tenho que confessar que em PT ainda mando com a mão na porta de vez em quando (à procura das mudanças) e em MZ ainda limpo muitas vezes o pára-brisas...eheh. Até já*
Bem...cá vamos ao primeiro post.
Digamos que estou um pouquinho atrasada, deveria ter criado este blog há 3 anos e meio...precisamente quando cá cheguei. Mas, visto que nessa altura o deslumbre era tal, não me deve ter ocorrido semelhante aventura. Cheguei a Moçambique, mais precisamente à cidade de Tete, a 18 de Agosto de 2012. Criei este blog por achar que está na hora de partilhar as situações caricatas que vivi e que vivo todos os dias por estas bandas. É obvio que terei outras reflexões à mistura...ora não fosse eu mulher com mil pensamentos na cabeça a toda a hora! Acima de tudo, este blog será uma espécie de anti-alzheimer para mim, pois vai-me fazer ir buscar algumas histórias ao baú e assim poder voltar a revivê-las através das palavras. O jeito para escrever nunca “me assistiu”, mas a vontade de escrever sim, por isso vale a pena tentar escrevinhar qualquer coisa não? E sim, será totalmente de acordo com o desacordo ortográfico.
Para quem não sabe, assim como eu também não sabia, Tete é uma província do interior centro de Moçambique, que tem como capital de província a cidade de Tete. Ora diz a Wikipedia (e eu acredito!) que Tete (província) tem uma área de 98.417km2 (Portugal tem 92.212km2!) e fica a cerca de 1570km da capital Maputo, nada mais nada menos do que a distância entre Porto e Paris. Por isso como devem imaginar, aqui tudo fica longe. A cidade mais próxima, Chimoio, fica a cerca de 400km, e é capital da província ao lado. Fora isso, existem vilas e povoados por ali e por acolá. Moatize, é o nome da vila simpática onde eu resido e trabalho actualmente.
Até já*