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Desabafos,desatinos e aventuras de uma emigrante em África.
(continuação do post anterior...)
A clínica tem dois consultórios dentários semelhantes aos consultórios em Portugal de há 20 anos atrás. No dia da primeira consulta lá fui eu na expectativa (como quem diz...cheia de medo). A médica coreana chegou a horas. Cumprimentou-me e foi aí que deu para perceber que a comunicação havia de ser engraçada...tentámos ter uma conversa, algo estranha, porque ela percebia alguma coisa de português e alguma coisa de inglês...quase nada vá. Começou a tirar lá o material dela que trazia na bolsa, e que vim a descobrir mais tarde que era tipo a bolsa da Mary Poppins.Toca a tirar-me os elásticos com uma pinça e um alicate,o que achei normal...como nunca tinha feito manutenção não sabia que havia um equipamento próprio para tirar elásticos, o que foi bom senão tinha-me assustado logo. Mas não demorou. Para quem não sabe, na manutenção do aparelho trocam-se apenas os aros de metal que estão presos aos brackets pelos elásticos, e que variam na espessura dando-lhes a intensidade. Ela escolheu um aro (bem mais espesso do que o que eu tinha!) e colocou-me na boca para medir e cortar as pontas para ficar de tamanho correcto. Lá cortou com o alicate e...pegou numa vela (que tirou da bolsa Mary poppins) para esterilizar as extremidades do aro. Uma vela. Tipo há 100 anos atrás. OH GOD ONDE ME VIM METER??? (pânico pânico pânico). Para ajudar à festa, em vez de elásticos começou a cortar pequenos pedaços de arame e a prender o aro. Bem...no meio daquele festim, muita coisa passava na minha mente, mas como eram só pensamentos negativos eu estava a tentar relativizar. “Se calhar é normal...”...realmente não é anormal usar o arame (soube eu meses mais tarde na minha dentista em PT), mas costuma ser usado só em alterações específicas. Muito bem, findo o desespero, paguei os olhos da cara e vim-me embora.
Passado uma hora já estava cá com umas dores que não vos conto...mas pensei que passado um dia ou dois acalmasse. Pensei mal. O aro que ela me tinha colocado era super forte, disse-me a minha dentista em PT que só o costuma colocar ao oitavo mês de manutenção...mas como eu sou uma sortuda, foi logo à primeira. Conclusão... 3 semanas de dores a comer, e ao fim de 10 dias os meus dentes já tinham mudado completamente de posição e estavam a ficar alinhados. Tratamento de choque que o raio da coreana me deu. Cheira-me que deviam ser os únicos aros que ela tinha, pois durante 4 meses usei sempre o mesmo. Depois da primeira manutenção, raramente tive dores...só no dia em que ela mudava o aro, depois passava. Pudera, depois dos dentes terem tido uma deslocação drástica em 3 semanas, o resto dos acertos foram suaves. 2 anos de abre-latas e de consultas maradas e silenciosas com a coreana. As duas palavras que lhe ouvia regularmente eram "abre" e "pica?"...e ela de mim também só ouvia "boa tarde", "não" e "até à próxima"...
Felizmente o resultado foi positivo...mas várias vezes receei que talvez não tivesse sido a melhor altura da vida para esta aventura...
Até já*
" So long there is breath in me, that long i will persist. For now i know one of the greatest principles on success: if i persist long enough I will win." - Og Mandino
A primeira coisa para a qual eu olho numa pessoa, são os dentes. Desde sempre. Talvez porque sempre tive o “trauma” de ter os dentes tortos. Em pequena ainda andei uma série de anos com aqueles aparelhos amovíveis, um em cima e outro em baixo. Mas ao fim de dois anos sem aquilo, voltou tudo ao mesmo. Depois de vir para cá e começar a poupar algum dinheiro, um dos meus objectivos era colocar aparelho fixo e ver se finalmente conseguia o sorriso Colgate. Sim, sempre achei horroroso ander de aparelho fixo ou abre-latas, pára-raios...o que lhe queiram chamar. É pouco estético além de magoar bastante, tanto os dentes como as gengivas.
Decidi colocar o aparelho em Julho de 2013 em Portugal e depois fazer a manutenção cá. Claro que, antes disso me fui informar a uma clínica dentária que existe em Tete se faziam esse tipo de trabalho, ao qual a resposta foi positiva. O que não me disseram, foi que eu iria ser a PRIMEIRA paciente de ortodontia naquela clínica. Pois bem, dizerem-me isso na primeira consulta depois de eu já ter o aparelho colocado, não me valeu de muito, por mais que a minha vontade fosse correr dali e arrancar os brackets fora. Depois de falar com o médico, ele explicou-me que não tinha experiência em ortodontia e quem iria fazer a minha consulta seria uma médica coreana (sempre a melhorar isto). E finalmente fomos falar de preços. E ele decide dizer-me assim “Já falei com a médica e são 1000 dólares o tratamento.”... OI?COMO?DESCULPE? Fiquei incrédula a olhar para ele e só me apetecia rir. E perguntei: “Desculpe, mas o senhor por acaso sabe quantas consultas vão ser necessárias?Quanto tempo vou estar com o aparelho?Como pode dar um preço desses sem saber nenhuma informação?”...ele muito atrapalhado, disse que ia falar com a médica e chegar a um preço por consulta. Assim foi, e eu concordei, afinal não tinha grande hipótese. Não fazia era ideia do que estava para vir...
Não percam o próximo (e último) episódio (desta história), porque nós...também não!
E sábado foi dia de destaque do Sapo! Obrigada!
Até já*
Desde que vim para Moçambique que comecei a fazer uma lista de locais a visitar, afinal não é todos os dias que se está tão perto de pérolas africanas. Não só em Moçambique como nos países circundantes, podemos encontrar uma série de lugares lindíssimos, pequenos paraísos que merecem ser visitados pelo menos uma vez na vida. Felizmente já tive oportunidade de realizar algumas dessas viagens e de ter conhecido lugares fenomenais, que pretendo mostrar aqui no blog. É claro que, como cá estou em trabalho, só quando apanho um fim-de-semana prolongado é que posso agendar uma viagem, porque aqui de carro tudo fica longe e de avião além de caríssimo, também não temos muitas opções dado que os horários dos voos não ajudam e não há voos directos para a maior parte dos destinos a que gostaria de ir. Para agravar, o turismo em África é estupidamente caro.
Assim sendo, antes de lançar o primeiro post sobre as viagens, mostro-vos a minha lista de lugares a visitar:
Moçambique – Vilankulos/Ilha de Bazaruto: check!
Moçambique – Ilha de Moçambique: check!
Moçambique – Praia das Chocas: check!
Moçambique – Barragem Cahora Bassa/Songo: check!
Moçambique – Parque Nacional da Gorongosa: em falta
Moçambique – Pemba/ Arquipélago das Quirimbas: em falta
Malawi – Lake Malawi/Cape McClear: em falta
Zambia – South Luangwa National Park: check!
Zambia – Victoria Falls: em falta
África do Sul – Cidade do Cabo: check!
Obviamente que ainda há muitos mais locais fantásticos que poderia incluir nesta lista, mas como quero que seja real, vou mantê-la com este tamanho. Com sorte, talvez lhe adicione o Kruger National Park na África do Sul ou Zanzibar na Tânzania, mas não são uma prioridade. Até lá, vou-vos contando como foram algumas destas visitas.
Até já!*
Passo a partilhar algumas expressões utilizadas por cá, que ficam a dever muito à lingua portuguesa:
E não são só estas...mais virão por aí!
Até já!*
Ora, como eu sou um ás da informática, não sei bem o que fiz na semana passada mas deixei de ter acesso ao blog. Agradeço desde já a ajuda da equipa SapoBlogs (Pedro Neves) , se não fossem as indicações deles nunca mais cá voltava. Acabei por fazer uma exportação do meu ex-blog para este, que apesar de não paracer, é novo. Mantive as configurações, posts, comentários e até consegui alterar o site do blog e manter o anterior, depois de apagar o primeiro blog. O que perdi, visto que tive de fazer um novo perfil, foram os meus subscritores e também aqueles que eu seguia. Por isso, para a meia dúzia de pessoas que me seguia, aviso que tem que subscrever novamente o perfil, pois apesar do nome e endereço serem os mesmos, são novos!
Crise. Essa malvada. Em 2008 estava eu bem longe de imaginar o impacto que a recente crise teria na minha vida. Até porque de economia percebo pouco, então nem sequer liguei muito ao tema nos primeiros tempos. Já começava a ouvir os meus professores na faculdade a dizerem que uma passagem profissional pelo estrangeiro seria óptimo para o currículo, além de nos obrigar a evoluir profissionalmente em menos tempo. Ok, até aí tudo bem, é muito giro mas não vou estar agora a pensar nisso que tenho muito que estudar. Depressa terminei licenciatura e aí sim, dei logo de caras com as consequências da crise. Durante os dois anos de mestrado enviei currículo atrás de currículo...respostas nem vê-las. Quando se vê o sector da construção civil parado, as empresas a estabelecerem-se em África ou na América latina, somos obrigados a considerar hipóteses que antes pareciam piada. Por isso não foi de estranhar que me agarrasse com unhas e dentes à oportunidade de vir trabalhar para Moçambique assim que ela surgiu. “Olha, uma empresa que considera contratar mulheres...não acredito!” Porque além da crise ser a grande culpada, como é de conhecimento geral (e apesar das pessoas gostarem de dizer que a mentalidade tem vindo a evoluir, patati, patata), a indústria mineira/construção civil/whatever também não gosta muito de ter por lá senhoras a trabalhar. E pronto, foi assim que me tornei numa emigrante.
A parte boa da coisa, é que se não fosse a crise, não tinha coisas giras para escrever aqui no blog!
Infelizmente, hoje estou cá porque a crise assim me obrigou.
Felizmente, hoje estou cá porque a crise assim me obrigou.
Infelizmente, continuo cá porque a crise assim me obriga.
Já estava na hora desta crise acabar não?
Até já*
" The grand essentials to happiness in this life are something to do, something to love, and something to hope for. " - Joseph Addison
Como boa portuguesa que sou, sabe-me sempre bem comer uma torradinha acompanhada de uma meia de leite ao pequeno almoço. Só que algo tão simples como isto, aqui foi complicado para encontrar. O conceito tosta, é o mais usual por estas bandas, sendo que aqui em Tete é dificil encontrar a minha definição (aquelas torradas de dois andares,com um pão super fofo, cortado em 6 pedaços..nhamiii). Felizmente, abriu um estabelecimento que começou a servir torradas mais ou menos parecidas com as nossas, e eu obviamente, aproveitei. Aos domingos de manhã, lá ia eu contente comer a minha torradinha com pouca manteiga e a meia de leite clarinha. Confesso que a maior parte das vezes não era o que esperava, mas aqui aprende-se a dar valor ao que se tem. Mas há dias... e dias. E num certo dia, serviram-me aquilo que eu só posso chamar de... micro torrada. Não sei se a pessoa que a fez era inexperiente, ou se não tiveram coragem de dizer que não tinham o pão adequado, mas digamos que me serviram este lindo espécime (de notar que a comparação foi feita com a espessura do meu telemóvel...).
Desisti das torradas.
Até já*
Detesto baratas (mas quem é que gosta delas?). Já fazia ideia que aqui havia bicharada, e como esses seres resistentes a tudo estão em todo o lado, não seriam excepção. No primeiro mês que cá estive, nem tive grandes encontros com a classe insectívora local. Excepto naquele dia...o dia fatídico em que uma barata castanha, gigante e com asas estava pousada em cima do meu casaco, no meu quarto. NO MEU QUARTO!!! O que fazer? Esperar atentamente pelo colega de trabalho que me ia buscar (sem tirar os olhos da menina, não fosse ela mexer-se e ficar em paradeiro incerto) e pedir-lhe que a matasse. Objectivo cumprido! 1 para mim, 0 para a barata.
Hoje em dia, e depois de já vários encontros imediatos de 3º grau com estes seres, continuo a preferir não as matar e continuo a pedir gentilmente a quem estiver por perto para fazer o obséquio. Mas quando estou em perigo, com uma filha-da-mãe a vir na minha direcção, tomo a medida drástica do chinelo ( não vá ela atacar-me e matar-me à dentada). Aqui não há saneamento, logo tenho uma fossa na parte exterior da casa. Entenda-se por fossa: palácio das baratas. Há pouco tempo fez-se uma desinfestação, mas as criaturas voltaram em força para mostrarem que são duras de roer. Sair de casa à noite é ter sempre um confronto directo com 2 ou 3 a passear à porta. Mas enquanto é lá fora... menos mal. De vez em quando, uma aventura-se para dentro de casa, mas normalmente não tem final feliz.
Mas a noite passada...ai a noite passada. Acordo a meio da noite e vou ao WC. Quando volto para a cama...O que é aquilo? Uma barata. Uma barata...NA CAMA. ESBORRACHADA. Mas o que me surpreendeu (deve ter sido do sono!), é que o espécime foi retirado da cama e voltei a dormir como um bebé. Noutros tempos teria ficado imóvel por 5 minutos, arrepiada por 15 minutos e teria passado uma hora à procura de baratas no quarto, não fosse ter outra surpresa. De manhã ainda encontrei uma patita por lá perdida... não deve ter tido uma morte fácil a baratinha.
20 para mim – 0 para as baratas.
Até já*